Quando seu cão se comporta mau, o que você faz?

A lista de comportamentos negativos em cães cresce a cada dia, e com ela vem as dúvidas e os questionamentos sobre o que fazer para interromper ou mudar o comportamento do cão, mas hoje, vamos falar da parte desse processo que pouco se fala, que é, o que fazer para mudar o seu comportamento como ser humano nesse processo.

O primeiro ponto a ser levado em consideração, e o mais importante, é o fundamento da relação desse cão com sua família. Vamos ver aqui algumas características de relacionamento que podem criar problemas de comportamento nos cães;

1.      Permissividade: Faça uma análise e veja o quão permissivo você é com seu cão, principalmente no que diz respeito a limites. Cães que tem liberdade de fazer escolhas na rotina doméstica optam por onde e quando descansar, quando comer, quando subir no sofá, quando dormir na cama, quando brincar e manipular pessoas para obter engajamento, quando ter afeto e quando intervir de forma negativa quando acham que devem.  Veja que nesse quadro você está permitindo que seu cão faça todas as escolhas, e te sobra apenas lidar com as reações e resultados das mesmas.  Nesse cenário você se coloca numa posição inferior na hierarquia da família, naturalmente reduzindo seu poder de intervenção no comportamento do cão, aumentando as chances de ter problemas.

2.     Afetividade em excesso: O afeto é uma forma natural do ser humano de demonstrar carinho e nós tendemos a nos render a essa prática de forma primordial na relação com nossos cães, mas veja como o afeto em excesso, oferecido de forma deliberada, pode prejudicar o comportamento dos cães dentro do convívio doméstico e social. Exemplos: você acorda e já começa a “conversar” com seu cachorro, dando “bom dia”, beijando e fazendo festa. Quando seu cachorro chega perto de você, em qualquer situação, você imediatamente faz contato físico, passando a mão nele, acariciando continuamente e alimentando essa atitude. Se em algum momento seu cão demonstra insegurança ou incerteza você imediatamente faz carinho e fala com ele, acreditando que assim ele vai se sentir melhor. Você tem pena de estabelecer regras e restrições no convívio então você permite que ele suba na cama, durma com você, entre no banheiro com você, ande no carro no seu colo, fique no sofá em cima de você e participe de toda a sua vida íntima. Veja que nesse cenário, você se tornou o ser mais frágil dessa relação, baseando todas as suas decisões na emoção, deixando de lado a capacidade racional de análise prática, e criando assim um cão sem habilidade de lidar, de forma equilibrada, com o mundo real.

3.     Medo, inabilidade ou falta de paciência para disciplina: A disciplina faz parte de qualquer convívio em espécies diversas, e com os cães não é diferente. Cada grupo social precisa de pilares que fundamentam a dinâmica social harmônica, e sem eles o caos se estabelece, mas para que esses pilares sejam sólidos é preciso por em prática as regras e aplicar táticas disciplinares para que as mesmas sejam devidamente cumpridas. Analise agora qual o conjunto de regras que existem na sua casa, como elas funcionam e o que acontece quando elas são quebradas. Alguns de vocês vivem sozinhos com seus cães, ou vivem em família mas esquecem desse detalhe. Veja aqui alguns exemplos de como os cães se aproveitam dessa brecha para fazer escolhas que podem ser prejudiciais para seu comportamento: você não quer que seu cão pule nas visitas, mas você não dedica tempo para condicionar seu cão com essa situação, e quando elas chegam você não tem paciência para intervir ou corrigir então você deixa acontecer porque eventualmente ele para. Você não quer que seu cão durma na sua cama, mas ele sobe de qualquer jeito e você não consegue tirá-lo, então você desiste e deixa ele lá. Você não quer que seu cão fique correndo pela casa, mas você não sabe como fazer ele parar, então você deixa acontecer até ele cansar. Você não quer que seu cão fique latindo na varanda, mas você não tem paciência para treinar, corrigir e motivar o comportamento inverso então você grita, reclama, e eventualmente convive com esse comportamento. Veja que em todos esses exemplos o faltou foi sua intervenção de forma correta e efetiva. Você até tem as regras como ideais na sua cabeça mas não coloca nada em prática por medo, falta de habilidade ou falta de paciência para praticar. No final você se convence que o cachorro é assim mesmo, e não há nada que você possa fazer para resolver o problema.

Essa é uma análise de extrema importância que vai definir como seu cão vai se comportar ao longo da vida, não apenas com você, mas com qualquer pessoa em qualquer situação. Esses são os pilares de relacionamento que devem ajustados antes de começar qualquer trabalho comportamental. Sem alterações nessa área, nenhum treino será realmente efetivo.

Para implementar essas mudanças, a ferramenta mais importante a ser usada é você! Isso significa que você deve, mudar sua postura, mudar a forma como lida com esses cenários, aprendera intervir, deixar o lado emocional de lado e ser mais prático e racional, usar as ferramentas certas, e não pensar que disciplina é crueldade. Você pode e deve ter uma relação equilibrada com seu cão, aonde o amor e afeto vão existir, mas, as regras aplicadas, as consequências de valor, os limites e uma rotina estruturada vão estar presentes na medida certa garantindo um bom resultado no lado comportamental, sem medo, sem desculpas e sem justificativas para evitar as práticas.

Se você realmente quiser, e fizer acontecer, você vai ter o seu cão ideal, mas depende só de você.