Punições: quando inserir na equação da educação canina.

Hoje compartilho com vocês um texto escrito pelo Cão Raiz, que é super relevante para a compreensão de todos sobre a importância das correções no treinamento de cães, e suas analogias com a conduta humana. Boa leitura!


Este tema é certamente o mais polêmico no mundo do adestramento, não só no brasil mas no planeta inteiro. Diversos adestradores são contra o uso de técnicas que envolvem punições sempre com o pretexto de que a ciência já teria provado que isso não ajuda em nada, que na verdade só piora as coisas, e que devemos preservar o bem estar animal. Será mesmo? Eu não quero fazer campanha anti ciência, mas convido vocês a refletirem se seria possível que a ciência, motivos políticos e viés humanos pudessem cruzar seus interesses em determinado momento para manipular resultados de pesquisas, à fim de aumentar lucros ou gerar vantagens indevidas para algum grupo? Será que adicionar a palavra "ciência" a um texto o torna incorruptível ou correto?

Bem, a mesma ciência que eles mencionam sempre que querem desqualificar o uso de punições como parte importante do treinamento de cães, também define que punições têm um papel importante no aprendizado e sobrevivência de qualquer espécie. Vocês podem entender mais sobre isso aqui mas convenientemente eles não mencionam a teoria dos 4 quadrantes do aprendizado (também chamado de condicionamento operante) por completo.

Mas afinal onde se encaixa o uso de punições? Antes de responder essa pergunta quero fornecer à vocês um pouco de contexto a respeito da linguagem natural dos cães. Para entender o que eu vou falar agora, não precisa ser um cientista renomado com diversos certificados pregados na parede do laboratório, e qualquer pessoa com plenas capacidades mentais pode fazer esse experimento. Procurem no youtube documentários sobre lobos e assistam, com uma mente bem aberta, e vocês irão perceber que a comunicação deles envolve muito mais punições do que recompensas ou simplesmente observem como os cães de vocês interagem uns com os outros. Vocês serão capazes de identificar coisas como, hierarquia, ordem, disciplina, punições, recompensas e até dominância (apesar de que adestradores irão dizer que o mito da dominancia já foi derrubado).

No mundo real, e isso serve para qualquer espécie, aquilo que não gera punição ou desconforto automaticamente é um estímulo recompensador. Um bom exemplo disso é o radar eletrônico de velocidade. Se não houvesse a multa (punição) as pessoas jamais respeitariam o limite de velocidade. Tudo isso junto é o que garante o equilibrio das espécies e isso é matemático, um positivo anula um negativo atingindo assim o equilíbrio. O mesmo se aplica aos cães e aqui está um vídeo para exemplificar, por favor não tentem replicar isso em casa.

Nós, seres humanos, jamais seremos capazes de replicar perfeitamente a interação que um cão teria com outro e é obvio que nossos cães sabem que somos uma espécie diferente, afinal de contas eles não são retardados. Entretanto, há algo muito importante a ser ressaltado que é o fato de que animais em geral JAMAIS irão evoluir ao ponto de entender a nossa comunicação humana e isso significa que NÓS humanos precisamos aprender a falar a linguagem natural deles.

No caso dos cães, o homem foi capaz de inventar diversas ferramentas que foram projetadas para realizar uma simulação mais próxima possível da linguagem natural dos cães e não para agradar os olhos humanos. Nenhuma ferramenta de adestramento foi desenvolvida e pensada com o propósito de lesionar cães, observem a escolha da palavra lesionar. Entretanto, tais ferramentas podem ser utilizadas para essa finalidade assim como um carro pode ser usado para atropelar multidões e um cargo político pode ser usado para instaurar ditaduras mas percebam que isso seria um desvio de função em todos os casos. Punir não envolve lesionar e está muito longe disso. Ferramentas não fazem mal sem humanos de má índole por trás.

Agora sim, quando devemos inserir punições na educação canina? Eu percebo a necessidade de punição em 2 ocasiões:

  • quando queremos ensinar o cão que determinada contuda não é correta.

  • quando o cão não obedece a ordem de um comando que ele já sabe fazer.

Vou exemplificar para vocês. Se um cachorro que eu estou treinando demonstrar sinal de agressividade contra mim, ou outro ser vivo, eu imediatamente irei aplicar um dose de punição tão alta que ele desejaria nunca ter feito essa escolha. Vou lesionar o cachorro? Não! Vou causar dor e fazer com que ele tenha medo de demonstrar agressividade? Óbvio e pode ate ser que ele grite! Isso irá suprimir o comportamento? Claro e esse é o objetivo.

"Ah Carlos mas você poderia ignorar o comportamento até ele apresentar o comportamento desejado e você o recompensar", não! Eu não poderia fazer isso por que todo comportamento que não gera punição é automaticamente reforçado. A única coisa que iria acontecer é este comportamento de agressividade se fortalecer. Entendam de uma vez por todas, punir não é o mesmo que lesionar e só é possível parar uma conduta indesejada dessa forma.

Ensinar o cachorro a sentar no lugar de pular em pessoas não o fará desaprender como pular e quando ele achar que sentar não trás a recompensa que ele desejaria ele vai tentar buscá-la através do segundo comportamento recompensador. "Ah Carlos, então toda vez que você fizer algo errado eu vou te punir da mesma forma que você pune o cachorro" bem, você poderia mas não funcionaria por que a punição precisa ser feita de forma que faça sentido para a espécie em questão (humana) e colocar uma prong collar ou colar eletrônico em humanos não geraria uma punição que faria sentido para qualquer um de nós.

Vamos para o outro cenário, agora onde o cão escolhe não obedecer uma ordem que ele já sabe fazer. Só existem 2 motivos para que isso aconteça: ele não sabe realizar aquilo ou ele não quer. Nós ensinamos condutas desejadas através de recompensas e isso é muito lógico. Se eu quero que o animal goste de realizar aquela tarefa eu preciso fazer ele gostar daquilo e ninguém precisa de um artigo científico assinado por um doutor para saber disso! Passado a fase de aprendizado em que fizemos diversas repetições, mais de 100 repetições com recompensas, podemos ter a certeza de que o animal já sabe fazer a tarefa. A próxima fase é trabalhar a falta de vontade de obedecer, aí que entra a punição na equação. Lembram que comportamentos indesejados só param com punição?

Pois é, a desobediência é um comportamento indesejado e precisa ser punida caso contrário o animal não terá motivo para te obedecer caso não ganhe uma recompensa, e convenhamos, eu jamais vou sugerir a um cliente que ande com saco de ração ou petiscos na rua. Então nesse caso, não ser punido é a recompensa, apesar de que muitos vão dizer que o animal só vai obedecer pelo medo. Isso é verdade e mentira ao mesmo tempo. Sim na fase de aprendizado ele irá obedecer pelo medo da punição mas quando ele aprender que a obediência é a recompensa e através dela ele não será mais punido, o cão vai aprender que não mais precisa ter medo da punição mas continuará sabendo que a desobediência gera uma consequência. Mas não adianta punir o animal por desobediência de uma conduta que ele não sabe fazer isso seria injusto, antiético e abusivo!

Nenhum cachorro vai parar na rua ou nos abrigos porque não sabe sentar, deitar ou rolar. Esses cães vão parar nas ruas e abrigos por que derrubaram idosos, atacaram seus donos ou outros animais e pessoas, porque latem demais, destruiram coisas dentro de casa, mijaram e cagaram dentro de casa e por aí vaí. Vocês não precisam de artigo ciêntifico para saber que se colocarem a mão no fogo irão se queimar, vocês já fizeram esse experimento e isso também é ciência. Apenas não está em formato de artigo científico. Tenham um olhar crítico e questionem tudo, não simplesmente aceitem tudo que se publica, como verdade absoluta porque o autor tem títulos. Tem muito erro e corrupção no meio acadêmico científico. Quando eu era criança carne de porco e ovos foram demonizados pela ciência e hoje já sabemos que a historia é outra e ambos são considerados extremamente benéficos. O melhor professor é o próprio cão, pensem nisso!


Para saber mais sobre o trabalho do Cão Raiz, visite os links abaixo:

Cão Raiz no Odysee

Cão Raiz no Instagram

Website do Cão Raiz